O oportunismo da direita na França

Oportunistas de plantão, liberais e conservadores lançaram os coletes amarelos, semelhantes ao que vimos com o pato brasileiro. Não resta dúvida que arrastarão junto de si a população cansada do velho sindicalismo reformista e desiludida com as alternativas partidárias de centro-esquerda. O movimento tenta utilizar a opinão pública  com  chamadas contra os impostos, principalmente os referentes aos derivados do petróleo. Mas não demorou muito para que os coletes amarelos despejassem sua ira contra os imigrantes e à população LGBTT.

É preciso desmascarar esses fascistas, já fizeram estrago no Brasil e tentam cooptar a ira e o descontentamento popular.

Precisamos levar para as ruas nossas ideias anarquistas e nossa oposição de classe e desmacarar o que esses movimentos disseminam, por detrás de políticas ultraliberais, querem mudar as relações trabalhistas e previdenciárias no mundo do capital. Não devemos esquecer que essas exigências imediatas, absolutamente necessárias, não serão capazes de responder, a longo prazo, à miséria social que o sistema capitalista produz estruturalmente.

 

Federica Montseny – Biografia

“No soy más que una militante libertaria. Ni líder, ni dirigente, ni jefe, porque en la CNT no ha habido, ni hay, jefes, dirigentes ni líderes, sino hombres y mujeres libres que luchan codo con codo, en igualdad de condiciones y sacrificios, por un ideal emancipador.”

Federica Montseny

A história pessoal de Federica Montseny Mañé corre paralela a do anarco-sindicalismo espanhol, da F.A.I. e da CNT, a organização na qual estave ativa durante toda a sua vida. Federica Montseny nasceu em 12 de fevereiro de 1905, em Madri. Filha de um casal de teóricos anarquistas, Juan Montseny (Federico Urais) e Teresa Mañé (Soledad Gustavo) .

Desde a sua infância, Federica foi educada em princípios libertários, que defendiam uma nova sociedade baseada na liberdade individual e na abolição do Estado, uma sociedade sem classes dominantes ou dominadas. A forte influência de sua família dão a ela um pensamento e atitude vital, fazendo da jovem Federica uma escritora promissora.

Aos dezesseis anos ela escreveu seu primeiro trabalho: Horas Trágicas. A partir deste momento, colabora regularmente na imprensa anarquista com seus artigos sobre naturismo, pacifismo, anarquismo e, acima de tudo, feminismo. Uma das ideias mais profundamente enraizada na concepção anarcofeminista de Federica Montseny foi a necessidade de uma educação universal, que não excluísse as mulheres, como foi feito sistematicamente. Ela defendia uma educação autenticamente gratuita, onde as mulheres tinham a opção de escolher seu próprio modo de vida, onde o poder de decisão era uma realidade e não apenas um desejo utópico. Em busca desse objetivo, passou a maior parte de sua vida. E para isso usou as únicas ferramentas disponíveis para ela: palavras, livros, idéias.

Federica escreveu, ao longo de sua vida, mais de seiscentos artigos, numerosas histórias de ficção, romances e ensaios. Entre seus títulos mais importantes incluem: “La indomable”, “El anarquismo militante y la realidad española”, “La Comuna de París y la Revolución Española” entre outros. No entanto, pode-se afirmar categoricamente que sua atividade revolucionário deixou sua carreira como intelectual em segundo plano.

Montseny foi a primeira mulher na Espanha, e uma das primeiras no mundo, a assumir uma tarefa de ministra, da Sáude e Assistência Social, durante a Segunda República. Seu mandato como ministra foi breve, apenas metade de um ano, entre novembro de 36 e maio de 37 e apesar de não haver tempo ou oportunidade de realizar importantes reformas, foi responsável pela promulgação de uma lei do aborto, suficientemente avançada para a época.

Depois de deixar o governo e derrota na Revolução Espanhola, o exílio levou-a a França, na amarga humilhação de ver milhares de companheiros detidos sem receber a ajuda para continuar a luta anti-fascista. Segundo Federica, esses foram os piores momentos de sua vida. Pouco depois de estar na França, a Segunda Guerra Mundial começa, assim como as perseguições do exército nazista, Felizmente, quando estava prestes a ser deportada para a Espanha do general Franco, sua terceira gravidez a impediu. Depois da guerra, ele se estabeleceu permanentemente na cidade francesa de Toulouse. E embora em 1977 ella finalmente pudesse retornar a Espanha, decide continuar a viver na França até o dia de sua morte, que ocorreu em 14 de janeiro de 1994.

Durante seu longo exílio, Federica trabalhou ativamente para manter os princípios do anarquismo vivos, dando palestras, escrevendo artigos, etc., bem como para a reconstrução da CNT.

https://www.youtube.com/watch?v=BiDoE2V3xXs

 

Feira do Livro Anarquista de Lisboa 2018

Certamente não é em todos os livros que podemos encontrar laivos de possíveis rumos para a liberdade. Muitos criaram maciços cadeados que sufocaram e oprimiram gentes e comunidades ao longo da história e do Globo. Alguns destes são os mais publicados da história, como A Bíblia (com o seu Génesis), O Livro Vermelho de Mao, O Príncipe, E Tudo o Vento Levou, ou até o Mein Kampf. As bibliotecas continuam a ter as prateleiras carregadas de novos e velhos volumes de literatura misógina, contos infantis sexistas, manuais de saúde homofóbicos e transfóbicos, livros escolares racistas, reedições da história imperial dos “descobrimentos”, constituições, códigos civis e penais, e claro, manuais de auto-ajuda.

Somos conscientes da ingenuidade desse anarquista ibérico que no final do século XIX, achava que a imprensa era o derradeiro invento que finalmente libertaria a sociedade. Mas no início do século XXI, quando, por vezes, o abecedário digital confere outra dimensão às palavras, ainda acreditamos nesse amontoado de papel, que dura séculos, que se pode ler, reler, oferecer, trocar, sublinhar, riscar, recortar, copiar, memorizar, e até usar para matar mosquitos e insónias, ou como guardião de folhas secas e lembranças. Uma vez produzido, tintado, encadernado, colado ou grampeado, não temos que recorrer à electricidade das centrais nucleares nem do lítio das minas poluentes a céu aberto, e podemos levá-lo connosco até o fim do mundo (ou até aos primórdios desses mundos novos que levamos nos nossos corações… e demais vísceras). Sim, alguns livros servem para sonhar e inspirar futuros ardorosos, que emergem das brasas de uma prisão em chamas – e de todas as suas (re)encarnações.

Este ano a Feira Anarquista do Livro volta a Lisboa nos dias 26, 27 e 28 de Outubro, novamente no cume fresco da Penha de França. Além dos vários achados que poderás encontrar nas bancas de livros de pequenas editoras e distribuidoras, também vais poder desfrutar de concertos, do indispensável convívio, de uma oficina de encadernação, e das conversas programadas sobre gentrificação e cultura libertária em Cacilhas, vacinação numa perspectiva antiautoritária, antipsiquiatria, histórias subversivas de algumas mulheres, “os mauzões e mauzonas” do maio de 1968, a atual brutal repressão na Turquia, e os diálogos entre o pensamento anarquista e o anticolonial.

Traz a tua palavra não presa, seja vocal seja impressa!

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