Feira do Livro Anarquista de Lisboa 2018

Certamente não é em todos os livros que podemos encontrar laivos de possíveis rumos para a liberdade. Muitos criaram maciços cadeados que sufocaram e oprimiram gentes e comunidades ao longo da história e do Globo. Alguns destes são os mais publicados da história, como A Bíblia (com o seu Génesis), O Livro Vermelho de Mao, O Príncipe, E Tudo o Vento Levou, ou até o Mein Kampf. As bibliotecas continuam a ter as prateleiras carregadas de novos e velhos volumes de literatura misógina, contos infantis sexistas, manuais de saúde homofóbicos e transfóbicos, livros escolares racistas, reedições da história imperial dos “descobrimentos”, constituições, códigos civis e penais, e claro, manuais de auto-ajuda.

Somos conscientes da ingenuidade desse anarquista ibérico que no final do século XIX, achava que a imprensa era o derradeiro invento que finalmente libertaria a sociedade. Mas no início do século XXI, quando, por vezes, o abecedário digital confere outra dimensão às palavras, ainda acreditamos nesse amontoado de papel, que dura séculos, que se pode ler, reler, oferecer, trocar, sublinhar, riscar, recortar, copiar, memorizar, e até usar para matar mosquitos e insónias, ou como guardião de folhas secas e lembranças. Uma vez produzido, tintado, encadernado, colado ou grampeado, não temos que recorrer à electricidade das centrais nucleares nem do lítio das minas poluentes a céu aberto, e podemos levá-lo connosco até o fim do mundo (ou até aos primórdios desses mundos novos que levamos nos nossos corações… e demais vísceras). Sim, alguns livros servem para sonhar e inspirar futuros ardorosos, que emergem das brasas de uma prisão em chamas – e de todas as suas (re)encarnações.

Este ano a Feira Anarquista do Livro volta a Lisboa nos dias 26, 27 e 28 de Outubro, novamente no cume fresco da Penha de França. Além dos vários achados que poderás encontrar nas bancas de livros de pequenas editoras e distribuidoras, também vais poder desfrutar de concertos, do indispensável convívio, de uma oficina de encadernação, e das conversas programadas sobre gentrificação e cultura libertária em Cacilhas, vacinação numa perspectiva antiautoritária, antipsiquiatria, histórias subversivas de algumas mulheres, “os mauzões e mauzonas” do maio de 1968, a atual brutal repressão na Turquia, e os diálogos entre o pensamento anarquista e o anticolonial.

Traz a tua palavra não presa, seja vocal seja impressa!

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La F.A.I. ante las elecciones – Tierra y Libertad – 07-02-1936

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Compas, quando voltamos nossos olhos para a Espanha, não é por saudosismo, mas é por acreditarmos nos aspectos dinâmicos da história – naquilo que consolida ações e práticas. A Federação Anarquista Ibérica sempre teve papel de assegurar que os princípios anarquistas estivessem presentes e garantidos na CNT, que no período pré-revolucionário agregava milhares de trabalhadorxs. O fascismo irrompia vertiginosamente na Itália e Espanha, na Alemanha Hiltler articulava o nazismo.

Trago esse texto pela contemporaneidade do reerguimento do fascismo no Brasil e no mundo (mais que um ressurgimento – acredito que ele esteve sempre latente, nunca adormecido).

Boa leitura e comentem!

“O PLENÁRIO DAS REGIONAIS DA FEDERAÇÃO ANARQUISTA IBÉRICA, REUNIDO NOS DIAS 30 DE JANEIRO E 1 DE FEVEREIRO DE 1936, FRENTE À SITUAÇÃO ATUAL

Considerando a extrema gravidade do momento presente na Espanha, tanto pelas dificuldades econômicas e políticas internas, como por influência de repercussões da situação internacional e castigados pela experiência de outros e pela mesma lógica dos acontecimentos e das coisas;

Considerando que, pela magnitude do proletariado revolucionário na Espanha, existe para este uma responsabilidade maior do que em outros países, para qualquer eventualidade reacionária;

– que o fenômeno do fascismo, incorporado no Estado totalitário, é um sistema reacionário no qual as violências das ruas e os golpes bestiais da reação representam apenas um aspecto de um vasto complexo de idéias e aspirações liberticidas, que manifesta-se na supressão absoluta de todos os direitos de crítica e oposição de todo o pensamento livre, de toda a dignidade humana e também tende a persistir por alienar as crianças desde a primeira idade;

– que a reação fascista é resultado direto da falência do capitalismo e que não se pode resistir de forma mais eficaz no campo da supressão do capitalismo e do estabelecimento de um regime de vida que torna impossível as contradições monstruosas da economia do privilégio e do monopólio;

– que as experiências históricas mundiais evidenciaram a impotência e o engano da chamada democracia, suposta igualdade politica enxertada na mais irritante desigualdade econômica, para modificar a essência da ordem constituída;
as Federações regionais da Federação Anarquista Ibérica fixam sua posição como segue:

a) lamentam que as organizações de trabalhadores que tomaram em outubro de 1934, um caminho francamente revolucionário e proletário, se aliem com os partidos democráticos- burgueses para encontrar uma solução que não existe.

b) defendem a ruptura total do proletariado com todas as ilusões do Estado democrático, e sua atenção na solução dos problemas dos trabalhadores e camponeses, o que implica a posse da riqueza social e natural pelos próprios produtores;

c) sustentam que somente no mundo do trabalho, nos locais de produção, pode-se encontrar um remédio eficaz e definitivo contra todas as formas de reação.

Afirmam que o acordo dos produtores é possível nestas condições:

1. Exclusão dos locais de trabalho dos elementos filiados a organizações fascistas mediante ações conjuntas das centrais sindicais anticapitalistas.

2. Emprego do método insurrecional para a conquista da riqueza social usurpada por minorias privilegiadas, e sua administração pelos próprios trabalhadores.

3. Implementação de um sistema de vida, de trabalho e de consumo que atenda às necessidades comuns da população e não concorde com qualquer forma de exploração e dominação do homem pelo homem.

4. A defesa deste novo sistema não será feita por exércitos profissionais, nem policiais, mas confiada às mãos de todos os trabalhadores, sem que estes percam contato com seus locais de trabalho.

5. O respeito e a tolerância de diferentes concepções sociais proletárias e a garantia de sua livre expressão.

6. A luta contra o fascismo, um fenômeno internacional, deve ser realizada internacionalmente pelas organizações dos trabalhadores e revolucionários, com exclusão de toda ideia e de todo sentimento nacionalistas.

A F.A.I. EM RELAÇÃO ÀS ELEIÇÕES

Dada a gravidade do momento e da iminência das eleições, o Plenário das Regionais, para combater o confusionismo originado por políticos de todas as cores, marca sua posição revolucionária.

Ratificamos nossa posição antiparlamentar e, portanto antieleitoral, uma vez que os fatos mundiais, afirmando nossas previsões, demonstraram eloquentemente que todas as experiências democráticas fracassaram e que somente a intervenção direta dos trabalhadores nos problemas que o sistema capitalista os coloca, é valor de ofensiva e de defensiva contra a reação.

A F.A.I. não tem nada, então, que retificar de sua abstenção completa de qualquer colaboração direta e indireta a qualquer política de Estado.”

Link do jornal inteiro (1Mb): https://mega.nz/#!FAsjACQY

 

Nem governos, nem partidos, nem sindicatos vendidos

Excelente publicação das Juventudes Libertárias de Madrid, onde explicita de forma bem estruturada o que é o anarco-sindicalismo, bem como faz uma crítica contundente aos sindicatos e centrais reformistas na Espanha (não muito diferente no Brasil) assim como aos partidos marxistas, de onde extraímos um trecho: “El centralismo democrático característico de los partidos marxistas pone a disposición de una reducida vanguardia la toma de decisiones respecto a asuntos que afectan a todos los individuos. Siendo una reducida élite la que toma esas decisiones, es evidente que van a defender siempre sus propios intereses, y que sus intereses son contrarios a los del resto de la  población (ya que esta reducida élite forma una nueva clase social; la clase  dirigente, completamente antagónica a la clase trabajadora). El centralismo democrático es una forma de organización que va de arriba hacia abajo, consiguiendo una gran uniformidad social para mantener el sistema ya existente. Toda iniciativa individual se pierde en un mar de procesos burocráticos,imposibilitando que cualquier propuesta prospere si no procede de la vanguardia que sitúa arriba”.

O link para download pode ser encontrado aqui: https://mega.nz/#!VREUwaIB 

Contatos com as JJLL de Madrid:

https://juventudeslibertariasmadrid.wordpress.com/

Solidaridad Obrera n.004 – 1907

Em 1907 xs compas da Espanha já denunciavam o ouro como o simbolo máximo do capitalismo e como em torno dele a vida humana se perde e se ilude. Muito significativo a alusão ao bezerro de ouro do sionismo judaico, no Brasil de hoje numa simbiose prostituta com a Igreja Universal do Reino de Deus, que reergue o Templo de Salomão, ao pior estilo fundamentalista. Mas vamos lá, traduzimos um pedaço da página inicial e convidamos a quem queira ver o periódico na sua íntegra em: https://mega.nz/#!IYMGWara .

A VACA DE ORO

“Eis aqui a religião que nós trabalhadores devemos destruir. O ouro é o culto que verdadeiramente corrompe a humanidade, pelo qual se cometem toda a espécie de crimes e toda classe de maldades. Pelo ouro se prostitui o amor, a consciência e o saber; pelo ouro se mente, se falseia e se perverte a inteligência. Pelo ouro,  o burguês nos explora sem consciência; por ele nos vendem os políticos, por ele nos engana o comerciante e se traem os homens. Frente ao ouro a Justiça se inclina ao que mais possui e a moral se molda à toda conveniência.

O ouro fomenta os ódios, engendra os antagonismos, excita as paixões, produz a avareza, mata as virtudes. Pelo ouro se causam as guerras, por ele se desvia o verdadeiro progresso dos povos e se sufocam as nobres rebeldias. O culto do ouro é o próprio mal, pois nos mantem escravos. Destruamos pois este fetiche, derrubando seus pilares que se sustentam  na propriedade e que caia para sempre no abismo da história (…)”

https://mega.nz/#!IYMGWara